Relembrando o PãoZine em Vitória /ES — Parte 1

Sugestão de logo e comunicação pro PãoZine feito por Sandra Mara Selleste… Ainda marinando!

Pra mim ainda é quase sempre um mistério o como começar a escrever algo. Sinto que hoje está mais nebuloso; talvez porque a experiência de trazer o PãoZine para Vitória (ES) esteja misturada à vivência de “viver Vitória”, uma cidade apaixonante. Encantada e encantadora. Tudo está intenso em mim: pessoas, encontros, conversas, passeios, música, comida; impressões e lembranças que vão e vem meio em torvelinho nesse momento, no dia que me preparo para voltar à Franca (SP). Então sinto que é mesmo um bom momento para escrever e ressignificar a experiência.

Assim, volto ao começo, ou quase, volto ao PãoZine realizado no dia 11 no Stael Magesk Centro Artístico. Chegamos Sandra e eu, os pães para assar, a massa começada, farinhas, utensílios — as vasilhas de D. Rosa, mãe de Sandra! Que só aqui é uma história à parte e por isso abro um parêntese: Sandra Mara Selleste afeita ao mundo corporativo queria comprar bacias de plástico uniformes, porque assim entendia que era possível compor uma boa mesa de trabalho junto com os outros elementos: papel toalha ou pano de prato, saco de pão, etc. Ouvi e, por dentro, contorci. “Preciso tomar banho”, disse e Sandra foi para o escritório fazer o que precisava.

Depois do banho tomado, olhei para a cozinha repleta de armários e pensei: “Corto os pulsos se não achar pelo menos 10 vasilhas boas para amassar o pão nessa cozinha!” Sem cerimônia investiguei as prateleiras, peguei o banco para as mais altas e logo tinha dez tigelas de vidro sobre a mesa. Afinal D. Rosa é cozinheira de mão cheia!

Comprar ou não comprar: eis a questão. Para mim, que ando me reeducando na Transição para viver ainda um bom tempo no século XXI e pensando muito sobre o legado que deixo/deixamos para as futuras gerações, o consumo é uma questão fulcral. Perguntar “o que, para que, como, quanto tempo” tornou-se um hábito cada vez mais frequente, porque ando muito preocupada com os resíduos produzidos a esmo, irresponsavelmente. Muito mesmo…

Tanto que vivo dizendo por aí que fiz um acordo com a Mãe Natureza de levar a sério o trabalho de redução de danos a Ela e que, quando chegar a hora do acerto de contas “do outro lado”, não quero levar muito peso desse pecado na cacunda. Outros tudo bem. Sacolinhas?! “Não, obrigada, a Mãe Natureza agradece” já virou mantra. E em dois anos e meio que voltei a morar onde estou agora, já eduquei os atendentes de dois supermercados e dois mercadinhos perto da minha casa. Nem me oferecem mais as sacolas. A Mãe Natureza agradece.

Só por isso já justificaria minha recusa à ideia da Sandra, mas… O PãoZine É uma experiência de aplicação da Fluxonomia 4D*, no qual tento lentamente pensar, estruturar, planejar, agir e refletir dentro deste escopo teórico-prático. Sei que ainda é algo difícil para mim explicar de forma clara e transparente, mas o PãoZine também é um “work in progress”, um trabalho de processo aberto, no qual o fazer e o aprender sobre o feito andam passo a passo,

Assim: Como e para que comprar bacias plásticas, se na Flux trabalhamos com a Economia Compartilhada, ao justamente compartilhar estruturas, espaços, equipamentos e materiais — os hardwares — para gerar fluxo de valor?

Então, fim do parêntese.

Sovar o pão é algo divertido! Foto: Stael Magesk

STAEL MAGESK CENTRO ARTÍSTICO

Então chegamos com a tralha toda e Stael Magesk nos recebeu com sua simpatia fascinante e presença luminosa. Apresentou-nos ao Hugo Mainard, amigo que veio pra dar uma força e revelou-se excelente auxiliar de produção e anjo da guarda — disponível e solícito, de prontidão e ainda conhecedor na feitura de pães! Hugo e eu nos vinculamos rapidamente e foi mesmo um braço direito e esquerdo com mãos experientes, o que me deixou muito à vontade para entregar-lhe minhas masseiras de pão durante a oficina. Que presente a sua presença e, num momento assim, simples, me encho de gratidão e amor à Vida Misteriosa! Gratidão à Stael que percebeu uma necessidade que nem eu tinha percebido.

Circulei rapidamente pela casa para me ambientar e, sinceramente, naquele instante, foi só uma atividade “pro forma”, já que minha cabeça estava plugada na oficina, nos tempos de crescimento da massa meio pronta a ser terminada durante a oficina e nos pães para assar. Isso é algo que sempre me deixa tensa — o forno! — toda vez que faço pão fora da minha casa, porque cada forno é um forno e os tempos acabam variando bastante na cozedura. No meu forno asso seis pães de uma só vez e demora cerca de 1h10.

Nessa hora da tensão procuro usar comigo mesma alguns combinados que faço nos meus grupos de trabalho: Escolher Estar; Sim Porque Sim; Sem Bichos Cricri; Limite, Controle e Contenção; Compartilhar na Roda.

Sem poder saber como vai sair o pão, ‘Escolho Estar’ presente ao momento, atenta e relaxada, sem deixar que a tensão atrapalhe minha percepção e, consequentemente, meus pensamentos e ações. Sim Porque Sim! O pão vai sair o que sair. Gosto da casca durinha, crocante com o miolo macio, mas… “E se não sair assim? O pão também pode queimar! As pessoas não vão gostar… Vai ficar feio…” Etc e tal, dizem meus Bichos Cricri no fundo da minha mente que mente. Então aceito o meu limite — sim, tenho medo de que o pão não fique bom porque não conheço o forno, pequeno, só cabem dois por vez! “Será que vai dar tempo? Às sete as pessoas começam a chegar…”

O embate continua dentro de mim, então respiro. Sim Porque Sim! Sim, só o que posso fazer é usar o meu controle para continuar escolhendo estar presente, confiante, sair de mim e compartilhar na “roda” da cozinha: “Como é esse seu forno, Stael?”. Foi assim que o Hugo veio me acudir, sugerindo que o forno devia esquentar mais em menos tempo por ser pequeno. Assim fizemos: O pão saiu com a casca mole para o meu gosto, mas… Sim Porque Sim! Ficou gostoso!

Enfim, tudo pronto, sala bonita, mesa posta, café e chá, pão, mesas de apoio, Sandra nas burocracias e no background, Stael na fotografia, Hugo e eu com os pães. Tudo pronto, eu feliz em começar a experiência, tranquila no flow, mas… Ah, vai! Um batonzinho nessa boca ajuda, né?

Continua… Logo, logo. Eu acho!

*Fluxonomia — Sistema de gestão estratégica baseada em estudos de futuro e nas novas economias — Criativa, Compartilhada, Colaborativa e Multivalores.

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Ana de Araujo_Inã Vivá Teceberaba

Criativa, curiosa e inventadeira, adoro escrever, desenhar, contar histórias, brincar, dançar, estar em roda, prosear, pensar “como seria se…” e um bom desafio