CULTURA É ESTRUTURA

ELEITORES, GESTORES PÚBLICOS E LEGISLADORES, CULTURA É ESTRUTURA!

Estava aqui caraminholando com a aproximação das eleições municipais… Estamos no século XXI e isto parece óbvio, mas ainda não é, pois muito do pensamento, motivação e ação ainda estão ligados ao COMO o século XX se organizou: um exemplo é o funcionamento de nossas escolas, que na grande maioria ainda opera como no fim do século XIX — professor, lousa, conteúdo, aluno — mesmo com todos os estudos e teorias da aprendizagem conhecidos e suas práticas comprovadas, que atestam que este formato não dá conta de fazer ninguém aprender o que é necessário para ser um vivente do século em curso.

Assim, o que nos falta para “chegar” ao século XXI? A Cultura…

Estamos em transição de modelos de viver, de reorganização de TODAS estruturas sociais — macro e micro — de forma a dar sustentabilidade às gerações futuras: novas economias, acesso amplo à informação e comunicação, modelos políticos de cogestão e participação, educação e aprendizagem, relação com o meio ambiente, saúde pública, mobilidade urbana, produção de energia, igualdade de gênero, desigualdade social, o mundo do trabalho, etc. As questões estão “por aí”, abertas e sem respostas simples e concretas de como tudo isto será no meio do século.

Para lidar melhor com esta grande mudança, a mais veloz TRANSIÇÃO que a humanidade e o planeta já viveram até o momento, é necessária a compreensão desta complexidade e, através do conhecimento de abordagens sistêmicas e transdisciplinares, escolher as melhores ferramentas que possam auxiliar na passagem de um “estado” a outro, minimizando a turbulência causada por esta “revolução de costumes”.

Por este motivo é mister compreender como a Cultura — com seus aspectos e desdobramentos imediatos e mediatos — pode influenciar na facilitação desta Transição para os novos acordos e escolhas que precisaremos fazer coletivamente — portanto politicamente — para viver o século 21.

Por exemplo, seria inimaginável, atualmente, militarmos pelo retorno à escravização legal de pessoas, trabalhadores com jornadas de 18 horas ( inclusive crianças ), mulheres sem direito ao voto, utilização da palmatória como método de educação, matar pela legítima defesa da honra, por homofobia, racismo e xenofobia. Todos são exemplos simples e muito compreensíveis de mudança de mentalidade e de acordos e escolhas coletivas que foram validados através de leis, depois que a Cultura foi mudando. Mesmo que ainda tenhamos que conviver com as marcas históricas que deixaram, muitas vezes quase indeléveis.

Cultura é o “chão” de como as “sementes de pensamento e ação” germinam. Cultura é a “alma coletiva” de um povo, de um tempo, de um lugar, por isso é preciso ter conhecimento e cuidado, afinal em qual tipo de sociedade vivemos e queremos viver? Com quais valores, objetivos, crenças, atitudes e acordos ( explícitos e implícitos ), estamos vivendo o presente e moldaremos o futuro próximo e distante? E na nossa cidade, como queremos que seja e esteja daqui há 10, 20, 30 anos, culturalmente falando, porque é no território que as coisas acontecem!

Por isso, tenho a certeza de que está passando da hora dos nossos gestores públicos e legisladores chegarem ao século XXI, de perceberem e compreenderem que Cultura não é algo “supérfluo” e “entretenimento”, porque Cultura É estrutura! É a estrutura simbólica que sustenta as demais dimensões do viver coletivo: ambiental, social e econômica. Cultura é dimensão estratégica, posto que é mentalidade, é o motor que faz rodar as demais dimensões. Se é preciso dar exemplos é possível pesquisar como Austrália, China e Inglaterra utilizam a dimensão cultural para impactar suas economias. É só dar um Google!

Existe uma máxima: “O que é sentido faz sentido!”, porque é através do COMO sentimos que pensamos, não o inverso! O que será que falta, ou melhor, COMO podemos afetar os sentidos dos nossos gestores e legisladores de modo a fazê-los perceber que existe um mundo para ser pensado e realizado num tempo que urge? E COMO podemos afetar os sentidos dos concidadãos eleitores para que desejem escolher gestores e legisladores competentes, profissionais, vocacionados e compromissados com um bem viver coletivo?

Não sei! Não tenho respostas, só perguntas e caraminholas. Sinto que meu desejo agora seria encontrar meus pares de incômodo e colocarmos a cacholinha pra urdir em meio a uma prosa com café, biscoitos e um bom naco de queijo. Depois levantar e ir, fazer, alguma coisa, porque não é possível que não haja o que se fazer… juntos!

Ana de Araujo_Inã

09/10/2020

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Ana de Araujo_Inã Vivá Teceberaba

Criativa, curiosa e inventadeira, adoro escrever, desenhar, contar histórias, brincar, dançar, estar em roda, prosear, pensar “como seria se…” e um bom desafio