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A HISTÓRIA DE COMO COMEÇOU O PÃOZINE

O “PãoZine — Pão e Prosa para a Transição” é uma iniciativa original: Um produto-experiência nascido da Fluxonomia 4D e também um estudo sobre formação de redes colaborativas. Entre as atividades realizadas, o Encontro do PãoZine acontece como um minievento para se ter conversas significativas e compartilhar o alimento físico e simbólico: o pão semi integral feito com fermentação natural de longa duração, como metáfora do “tempo das coisas”.

Eu, Don Antena e Elias Blacklas no lançamento do PãoZine / julho 2017

A proposta do PãoZine para o ano de 2021 é a Fermentadora de Futuros, mas antes de falar sobre esta ideia, sinto vontade de fazer algo que adoro: CONTAR HISTÓRIA! Penso que é preciso voltar um pouco atrás e contar como começou e o que é de fato essa iniciativa com nome “estranho”…

Quem me conhece bem sabe que sou curiosa, fuçada, “inventadeira de moda”, “bichareda” como diria uma certa Maria querida, que mora no meu coração e anda distante dos meus olhos, porque na vida é assim mesmo, os caminhos se cruzam e se distanciam.

Pois bem, em 2017 eu estava fazendo o segundo módulo da formação em Fluxonomia 4D* e cheia de caraminholas na cabeça; muito interessada em entender melhor sobre redes colaborativas e com uma fala da Lala Deheinzelin* que não saía da minha cabeça: Como sair da mídia e ser ‘A’ mídia provocando convergência? ( Sobre isto devo dizer que a-do-ro um bom quebra-cabeça desde pequena e os “comos” são alimentos para minha curiosidade movida a desafios. )

Eu precisava fazer um mínimo produto viável ( MPV ) como exercício de aplicação da Fluxonomia, então comecei a pensar em COMO juntar várias ideias aparentemente “injuntáveis”; coisas que que precisava ou desejava e aplicar no MPV. Minha hipótese era: Se tudo se encaixar e der certo, a Flux realmente funciona até pra alguém “como eu”… ( Com a bênção de São Tomé, funciona sim! Rsrs… )

O que eram essas coisas?

> Eu queria muito escrever sobre algum assunto, fazer um blog, um zine* ou algo do tipo;

> Pensava em juntar gente pra conversar sobre a Transição do século XX para o XXI e como isso estava impactando a vida cotidiana;

> Também desejava estar mais próxima de amigos;

> Precisava fazer uma graninha extra, algo que fosse fácil e pudesse fazer em casa, assim pensei no pão integral, que é algo de investimento barato e sei fazer bem;

> Tinha descoberto o Doutorado Informal* e queria produzir conhecimento!

Enfim, fui fazendo os mapeamentos e exercícios sugeridos nas aulas de Fluxonomia, conversando com colegas e pensando no encaixe do puzzle até que… A-há! Fechei a ideia do MPV, que deveria ser:

Para mim:

> Um EXPERIMENTO de aplicação da Fluxonomia 4D — isso me dava a flexibilidade e a possibilidade para operar num processo de trabalho aberto, em que eu pudesse realmente caraminholar à vontade, experimentar sem o peso de “ter que dar certo” ou de ser um compromisso futuro de um negócio mesmo num molde flux;

> Um DOUTORADO INFORMAL — para estudar e pesquisar in loco como uma rede de colaboração se forma e sustenta no tempo.

Para os participantes:

> Um MINIEVENTO — em formato de encontros com lanche e conversas sobre a Transição e seus impactos no mundo, no cotidiano, nas relações estabelecidas que mudavam rapidamente. Ao fim do evento as pessoas levariam o pão e um zine; ( Pão + Zine = PãoZine, não é tão estranho assim, fala a verdade! Rsrs… );

> Um PRODUTO-EXPERIÊNCIA — onde as pessoas viriam para vivenciar o momento, tal qual quando vamos a um show, concerto, etc; no qual saborear o pão seria a metáfora do tempo compartilhado em conversas significativas e afetivas sem pressa e num ambiente de confiabilidade, cultivando o ‘estar em companhia’* como possibilidade de um Encontro Profundo, este sim o alimento para a alma.

Assim, comecei a colocar as primeiras perguntas que me cutucaram e estão abertas até hoje, posto que o PãoZine continua vivo e segue seu experimento:

  1. Como uma rede de conversação e colaboração se forma e se sustenta?

2. De que forma estar em rede pode influenciar a forma de perceber, sentir, pensar e agir?

3. Quem são as pessoas interessadas em participar do experimento?

4. Quais são os benefícios do experimento para mim, para os participantes da rede e para a própria rede?

5. Como sair da mídia e ser a mídia provocando convergência?

6. Como comunicar a experiência e seus resultados de forma eficaz?

7. Como fazer isso usando a Fluxonomia 4D?

Eu creio que em algum momento futuro terei algumas respostas, ou todas, mas por enquanto eu experimento, observo, penso sobre e escrevo. Afinal, caraminhola pouca é bobagem!

Bem, voltando à história… Daí, no começo de julho de 2017 teve uma reunião* da Fluxonomia em Sampa para apresentação dos MPVs da turma; fui, apresentei e voltei. Depois chamei os amigos para um encontro de lançamento no fim do mês. Vieram uns 30 e foi um momento muito legal com música, exposição, poesia, contação de história, lanche compartilhado e pão. Fiz um pitch do projeto e apresentei para aquela plateia seleta… Rsrsrs… Amigos SÃO amigos! E ótimas cobaias também, então alguns se dispuseram a começar os encontros uma vez ao mês.

E em agosto estávamos nós — Bel, Don, Fernanda, Letícia, Renata, Sidclay, Rose e eu — na cozinha, à volta da mesa da posta, compartilhando o lanche, o pão, pensamentos e nossa companhia. Foi desta forma que nasceu o PãoZine, como ‘Encontros de Pão e Prosa para saborear a Transição’.

Já fazem 4 anos e o projeto se mantém sustentável, mesmo sem modelo, pista ou trilha demarcada. É claro que não estou sozinha nisso: Além da pequena rede já formado pelo PãoZine, tenho a rede da Fluxonomia Brasil e, principalmente, os grupos Flor da Cura* e Plataforma do Cuidado* que me ajudam muito a sustentar esse fluxo com mentoria, conversa, palpitaria, etc. Apesar disso, às vezes me surpreendo quando olho pra trás, porque foi e é, SIM, um grande desafio seguir com o PãoZine ( mas eu já disse que adoro desafios… ). ;)

GLOSSÁRIO

*A Fluxonomia 4D é um sistema de gestão estratégica que combina futuring ( estudo e criação de futuros desejáveis ) com a visão da sustentabilidade em quatro dimensões: Cultural, Ambiental, Social e Financeira. Assim, pela criação de métricas adequadas para tomada de decisão em 4D, é possível gerar um fluxo exponencial de ações e soluções, utilizando-se também das estruturas já conhecidas das novas economias — Criativa, Compartilhada, Colaborativa e Multimoedas.

* Lala Deheinzelin — Futurista brasileira, pioneira da economia criativa no Brasil, criadora da Fluxonomia 4D.

*Zine — autopublicação independente e barata, impressa ou em xerox em formato de “revistinha”, com fim lucrativo ou não. O termo zine veio de fanzine, aglutinação de fan magazine: “revista de fãs”. Tornou-se popular como um meio de divulgação de trabalhos artísticos, literários, musicais ou de qualquer outro tipo de cultura.

*Doutorado Informal — Termo cunhado em 2012 por André Gravatá, jornalista e um dos idealizadores do conceito, cuja ideia é o desenvolvimento de uma pesquisa sistemática e profunda, como em um doutorado, mas por fora da estrutura universitária e com auxílio de tutores e/ou mentores, que cumprem um papel semelhante ao de orientadores de um curso formal, mas sem hierarquia. O doutorando se propõe a percorrer um caminho próprio e original de estudo e sistematização do conhecimento produzido, por isso um princípio fundamental é a autonomia. “O doutorado informal, ao mesmo tempo em que é apresentado como uma nova abordagem de construção de saberes, também é entendido como uma filosofia educacional cujo ponto de largada são os temas e questões que soam mais fascinantes a cada indivíduo.” (Alex Bretas, 2016 ) https://alexbretas11.medium.com/

*Reunião — Tanto o módulo 1 (2016), quanto o módulo 2 (2017) da formação em Fluxonomia 4D foram presenciais-online com 1 encontro realmente presencial. O que hoje virou “arroz de festa” das reuniões virtuais — o Zoom — nós já utilizávamos junto com outras ferramentas de trabalho em ambiente virtual. Como agradeço ( hoje ) por ter me sentido um tatu naquela época!

*Companhia — O Don Antena ( Artur Gomes Don ), músico francano e companheiro de primeira viagem do PãoZine, sempre trazia para os encontros a etimologia desta palavra, que vem do Latim vulgar: cum = “com”, “junto” + panis = “pão”; refere-se originalmente às pessoas que repartem o pão e por extensão andam juntas. Assim, um companheiro é aquele com quem se pode repartir o pão, em quem se pode confiar. Isto é lindo e comovente!

*Flor da Cura e Plataforma do Cuidado — são dois coletivos de mulheres fluxonomistas dos quais faço parte. Apoiamo-nos umas às outras, pessoal e profissionalmente, nos Círculos de Cuidado Compartilhado, que se transformam em trabalhos e parcerias amorosas, estimulantes, com práticas colaborativas e de inteligência coletiva. Um enorme privilégio neste mundo “feroz”…

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Ana de Araujo_Inã Vivá Teceberaba

Criativa, curiosa e inventadeira, adoro escrever, desenhar, contar histórias, brincar, dançar, estar em roda, prosear, pensar “como seria se…” e um bom desafio